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Harpia é flagrada com quati nas garras, no Pará

Registros raros foram feitos na região de Parauapebas, durante uma expedição de campo. Foto surpreendeu observadores. Harpia predando quati em Parauapebas (P...

Harpia é flagrada com quati nas garras, no Pará
Harpia é flagrada com quati nas garras, no Pará (Foto: Reprodução)

Registros raros foram feitos na região de Parauapebas, durante uma expedição de campo. Foto surpreendeu observadores. Harpia predando quati em Parauapebas (PA). Carlos Tuyama Para muitos observadores de aves e apaixonados pela natureza, avistar a majestosa harpia (Harpia harpyja) é um sonho compartilhado. A raridade desse encontro já é um desafio por si só e, para alguns, um verdadeiro prêmio de loteria. Mas para aqueles que, além de encontrá-la, conseguem registrar o momento em que esse animal emblemático está em ação, caçando sua presa? Como podemos descrever essa experiência? O fotógrafo de natureza Carlos Tuyama, durante uma expedição de campo na Flona Carajás, em Parauapebas (PA), capturou o exato momento em que uma harpia preda um quati. O flagrante foi compartilhado nas redes sociais no final de agosto, e Tuyama contou ao Terra da Gente como foi viver essa experiência. Segundo Carlos, na semana em que fez o registro, ele estava participando de uma oficina voltada a discutir propostas de ações para a conservação da harpia nas unidades de proteção ambiental do Mosaico de Carajás. No dia do encontro inesperado, ele e os fotógrafos Leonardo Merçon e Dante Meller, decidiram acordar cedo para aproveitar as primeiras horas da manhã e registrar aves e outros animais da fauna local. Flagrante foi publicado nas redes sociais em agosto de 2024. Carlos Tuyama Durante a observação, o grupo avistou um indivíduo macho em meio à arvores baixas na borda do fragmento. Logo depois, o animal fez um voo curto e fugiu do campo de visão deles. No entanto, depois de cerca de 4 minutos, conseguiram encontrá-lo novamente e, para a surpresa deles, a ave estava com um quati nas garras. “Ter visto a harpia já era, para nós, uma surpresa e uma grande alegria. Reencontrá-la logo após, já com uma presa, era uma sensação de que havíamos sido presenteados naquela manhã quente de céu aberto”, comenta o fotógrafo. Carlos explica que, testemunhar o momento exato no qual uma harpia abate sua presa, é algo muito difícil de se ver. Além disso, existem poucos relatos e muito menos registros. Então, para ele, encontros assim estão sempre ligados a uma dose de sorte. “Anteriormente, em ocasiões diferentes, por duas vezes eu pude acompanhar ataques de harpia a bandos de primatas, mas sem conseguir ver, simplesmente ouvindo o bater de asas entre a folhagem e a vocalização agonizante da presa sendo atacada”, explica Tuyama. A dieta da harpia é composta principalmente por mamíferos, como macacos, preguiças e quatis, além de aves e outros vertebrados. Carlos Tuyama Além dessas duas situações, Carlos também testemunhou o abate de um tatu-peba em uma pastagem próxima à borda de um fragmento florestal. No entanto, como a predação ocorreu a cerca de 200 metros de distância, ele só conseguiu identificar o que a harpia havia caçado depois. “Normalmente os ataques são assim: rápidos, súbitos e inesperados, que é exatamente a técnica que ela usa para surpreender suas vítimas”, revela. De acordo com o fotógrafo, presenciar a predação da harpia contribui com o melhor entendimento do seu hábito alimentar e suas estratégias de sobrevivência. Nesse ataque, em particular, algo os surpreendeu ainda mais. Carlos relata que, depois do flagrante, eles se aproximaram da harpia com o objetivo de fotografar ela se alimentado da caça. No entanto, para a surpresa deles, logo apareceu um outro quati desavisado. “Nos preparamos, para quem sabe registrar um segundo ataque. Quando esse segundo quati, desatento, passou embaixo da harpia (que segurava fortemente o primeiro abatido), ela não teve dúvida: se lançou em um bote, tentando pegar a segunda presa, mas o peso da primeira parece ter feito ela se desequilibrar e a investida não foi bem-sucedida. Isso mostra o quanto é forte o instinto desse predador, que mesmo com a refeição garantida, não dispensou uma outra boa oportunidade”, detalhe. A fotografia Embora não seja tão veloz quanto um falcão, a harpia é ágil, precisa e poderosa. Carlos Tuyama “Como voluntário do Projeto Harpia e como amante da fotografia, essa é uma cena que eu sempre busquei e continuarei buscando. É talvez o recorte que melhor demonstra a força e o instinto desse predador de topo de cadeia. Apesar da sensação de crueldade que uma predação pode despertar em boa parte das pessoas, ela talvez seja a essência do modo de vida de um animal como esse”, pontua Tuyama. Ele assegura que a primeira preocupação é garantir um registro, o que necessariamente não precisa ser uma foto de estética impecável. Feito isso, normalmente começa a estudar as condições de luz, composição, distância do fundo, buscando um desfoque que possa destacar a ave. “Em fotos de fauna você não tem a opção de dirigir a cena, pois o seu modelo tem vontade própria e você tem que respeitar essa vontade, sob o risco dele se incomodar ou se sentir ameaçado e desaparecer. Então a busca de uma melhor luz ou de um enquadramento mais adequado dependem do deslocamento que você consegue na mudança de sua posição. Tudo isso, lógico, sem movimentos bruscos e sempre tentando prever qual pode ser a reação do bicho, a partir do seu ato”, finaliza. A caça da harpia De acordo com o ornitólogo Fernando Igor de Godoy, a harpia, como todos os rapinantes, possui uma visão focal extremamente apurada para a caça. Assim, ela permanece empoleirada, atenta, e quando avista a presa, lança-se em sua direção, capturando-a com suas garras. Embora não seja tão veloz quanto um falcão, a harpia é ágil, precisa e poderosa. Presenciar a predação da harpia contribui com o melhor entendimento do seu hábito alimentar e suas estratégias de sobrevivência. Carlos Tuyama “Registros de harpia já são raros, pois é uma espécie florestal, topo de cadeia, difícil de ser vista, e que por viver em áreas preservadas, cada vez mais é incomum. Todo registro de comportamento é sempre importante”, aponta o especialista. A dieta da harpia é composta principalmente por mamíferos, como macacos, preguiças e quatis, além de aves e outros vertebrados. Os animais caçados podem variar em peso até cerca de 9 kg, mas a harpia também pode se alimentar de espécies maiores, como filhotes de veado e porcos. VÍDEOS: Destaques Terra da Gente Veja mais conteúdos sobre a natureza no Terra da Gente