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Do Egito Antigo à atualidade: beldroega pode controlar diabetes e ser consumida em várias receitas

Planta rica em ômega-3 e vitaminas B e C pode ser utilizada na forma crua, refogada e em sucos. Na medicina popular também é usada para tratar problemas dige...

Do Egito Antigo à atualidade: beldroega pode controlar diabetes e ser consumida em várias receitas
Do Egito Antigo à atualidade: beldroega pode controlar diabetes e ser consumida em várias receitas (Foto: Reprodução)

Planta rica em ômega-3 e vitaminas B e C pode ser utilizada na forma crua, refogada e em sucos. Na medicina popular também é usada para tratar problemas digestivos e cicatrizar feridas. Uma das primeiras verduras usadas pelo homem, a beldroega possui um potencial significativo na culinária e na medicina popular Claudio Roberto Azevedo/iNaturalist Se você já esteve em uma horta ou mora perto de um cultivo agrícola, provavelmente já viu uma planta conhecida como beldroega (Portulaca oleracea). Segundo relatos históricos, a planta é nativa do norte da África, mas foi naturalizada em todo território brasileiro. Uma das primeiras verduras usadas pelo homem, a beldroega possui um potencial significativo na culinária e na medicina popular. Segundo Tanea Garlet, bióloga e especialista em botânica, a planta foi amplamente utilizada na antiguidade por egípcios, gregos e romanos, principalmente na forma de picles em conserva. “Suas folhas e ramos jovens são comestíveis tanto crus como cozidos e têm sido usados na alimentação humana há séculos. A planta pode ser consumida crua em saladas, bolinhos, salteadas, em omeletes e em outras diversas preparações. As sementes podem ser adicionadas em pães”. Beldroega é conhecida por seus benefícios na medicina popular, sendo usada para tratar diabetes, problemas digestivos e feridas. Tanea Garlet A beldroega é uma verdura rica em ômega-3, importante ácido graxo para prevenção de infartos e fortalecimento do sistema imunológico, e fonte de vitaminas B e C. Além disso, a planta é conhecida por seus benefícios na medicina popular, sendo usada para tratar diabetes, problemas digestivos e feridas. De acordo com a botânica Carolina Ferreira, toda essa variedade de benefícios para a saúde se deve aos muitos compostos encontrados na planta, como terpenóides, alcaloides, cerebrosídeo, cumarinas e flavonoides, que estão associados com os efeitos farmacológicos múltiplos. A infusão das folhas tem efeito tônico e depurativo do sangue, ou seja, ajuda a melhorar a vitalidade geral e a saúde, promovendo o bem-estar e a resistência física, e ainda auxilia na eliminação de toxinas e impurezas do corpo. Apesar dos vários benefícios para a saúde, a beldroega possui alto potencial antioxidante nas folhas frescas e altos teores de magnésio e zinco. O uso não deve ser exagerado, pois as plantas acumulam oxalatos de cálcio, que são tóxicos O oxalato é um composto que, em excesso, pode ter impactos negativos na saúde, especialmente em relação à formação de cálculos renais e à absorção de minerais. A quantidade de oxalato na beldroega pode variar dependendo das condições de crescimento e das condições ambientais. Também não deve ser usada na gravidez e em pessoas com pressão alta. Como consumir a beldroega Apesar de seu uso tradicional ter diminuído ao longo do tempo, Tanea Garlet sugere várias maneiras de incorporar a beldroega na culinária moderna. “Uma receita recomendada é o refogado de beldroega com peixe. Para essa receita, colha os ramos tenros, lave, desfolhe e quebre em pedaços os talos. Doure alho, sal e outros temperos com azeite, e acrescente os filés de peixe de sua preferência. Deixe dourar bem, acrescente a beldroega e mexa. Espere a beldroega murchar em fogo baixo e sirva quente. Outra ótima utilização da beldroega é para decoração de pratos”. Cartillha sobre Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANCs) foi desenvolvida por alunas de biologia e nutrição da UFSM Cartilha/UFSM Em um projeto de extensão vinculado à UFSM, realizado neste ano, a professora e outros três alunos das faculdades de biologia e nutrição, desenvolveram uma cartilha digital sobre Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANCs). Entre as espécies descritas está a beldroega. “Nosso objetivo é promover a saúde e o bem-estar humano por meio da utilização de plantas e do seu cultivo, enfatizando a importância do uso sustentável da biodiversidade. É uma cartilha bastante didática, onde são apresentados os nomes populares, científico, família, origem e distribuição, características, propriedades nutricionais e uso culinário”, destaca Tanea. Na cartilha, é possível aprender como preparar um suco verde de beldroega. Ingredientes 1 xícara de beldroega (folhas e talos); 1/2 limão; - 1/2 maçã; 1 copo de água. Modo de preparo Bater tudo no liquidificador e beber em seguida; Não é necessário coar. Cartilha digital da UFSM ensina preparo de suco verde de beldroega Tanea Garlet Condições ideais para cultivo A beldroega é uma planta de baixa manutenção que prospera em solo bem drenado e com boa exposição solar. A planta é caracterizada por seus caules suculentos e folhas carnosas. “Seus ramos variam de 20-40 cm de comprimento, com folhas predominantemente verdes, podendo ter formatos ovais ou lanceolado – tipo de folha que possui forma alongada e estreita, com bordas paralelas e afiladas em direção à ponta”, destaca Carolina Ferreira. Por ser uma planta suculenta, beldroega armazena água em suas folhas, caules e raízes, conferindo-lhe resistência à seca Vinicius Domingues/iNaturalist Já suas flores são solitárias, axilares, amarelas, que se abrem apenas de manhã. Por ser uma planta suculenta, ela armazena água em suas folhas, caules e raízes, conferindo-lhe resistência à seca. A estrutura carnosa da planta, que armazena muita água, indica mesmo que ela provavelmente vem de uma região com pouca chuva. Essa característica ajuda a planta a conservar água em ambientes secos. “Portanto, é provável que essa planta tenha se desenvolvido em locais áridos, como o norte da África, especialmente em áreas como o Egito, onde a água é escassa”, explica Tanea. Por ser tolerante à seca, cultivo da beldroega requer pouca rega e a rega excessiva pode resultar na podridão das raízes Pedro Beja/iNaturalist Ainda segundo a especialista, o fato de ser tolerante à seca, requer pouca rega, já que a rega excessiva pode resultar na podridão das raízes. “No entanto, se for cultivada para fins culinários, é melhor mantê-la em solo úmido e bem drenado para garantir a qualidade e sabor das folhas”, completa. Coleta e consumo seguro Tanea alerta para a necessidade de cuidados ao coletar a beldroega. “É essencial evitar áreas contaminadas por poluição ou dejetos de animais. O ideal é coletar a planta em locais limpos, protegidos e, de preferência, em cultivos específicos para hortaliças”. Deve-se evitar áreas contaminadas por poluição ou dejetos de animais para coleta de beldroega Clarisse Odebrecht/iNaturalist Carolina Ferreira complementa ainda a melhor forma de cultivar a planta seja em vasos. Além disso, a botânica explica que é importante sempre lavar bem e higienizar os ramos colhidos, e que eles devem ser armazenados sob refrigeração por até uma semana. De acordo com Tanea, é preciso também identificar corretamente a planta para evitar confusões com a onze-horas (Portulaca grandiflora), que não é comestível. Folhas da beldroega e onze-horas são facilmente confundidas, mas é importante se atentar pois onze-horas não é comestível shulinchen (à esq.) e Mukesh Kandpal (à dir.)/iNaturalist - Arte TG Razões para a confusão Pertencem ao mesmo gênero, o Portulaca; Apesar de suas funções diferentes (uma como alimento e outra como planta ornamental), as folhas das duas plantas são relativamente similares em forma e textura; Ambas são comuns em jardins e podem ser encontradas em áreas semelhantes; Em algumas regiões, o mesmo nome popular pode ser usado para diferentes plantas, o que pode levar a confusão. No Brasil, por exemplo, as palavras “beldroega” e “onze-horas” podem às vezes ser usadas para se referir a plantas que pertencem ao mesmo grupo botânico (o gênero Portulaca), mas são espécies distintas. Isso acontece porque os nomes populares podem variar ou se sobrepor, mesmo que as plantas sejam diferentes. Planta daninha em culturas agrícolas A beldroega pode ser problemática em pomares, hortas e jardins, onde compete pelos nutrientes do solo com outras culturas. Além disso, pode abrigar nematoides, que são pequenos vermes parasitas que afetam a saúde das plantas. Beldroega pode ser problemática em pomares, hortas e jardins, onde compete pelos nutrientes do solo com outras culturas luczobence/iNaturalist Devido a essas características, a planta pode prejudicar o crescimento de culturas valiosas, tornando-se uma preocupação para agricultores e jardineiros. “A beldroega é conhecida por atingir 45 culturas em 81 países, como pomares de laranja, videiras, mamão, maracujá, morango, arroz, milho, algodão, tabaco, cana-de-açúcar e trigo. Dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) indicam também que a planta é grande produtora de sementes, sendo capaz de produzir cerca de 10.000 unidades/planta, que podem ficar dormentes por até 19 anos”, conclui Carolina Ferreira. 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